quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Entenda a Era Sengoku e o Bakumatsu


Era Sengoku
O Japão. Terra do Sol Nascente. Sua bandeira é simplesmente um sol vermelho. E poucos conheceram sobre sua cultura, sua história, seu mundo.
Como professor de história no Ocidente, pouco se sabe do passado dessa sociedade. Os livros de história falam pouco ou nada sobre esse país. Só é citado quando se relaciona em conflitos de grande importância para os ocidentais, como a Segunda Guerra Mundial.  Poucos, por exemplo, sabem que houve uma verdadeira carnificina no Brasil, depois dos Aliados vencerem essa guerra. Isso se devia ao fato de que alguns japoneses não acreditavam na derrota de sua nação. E matavam quaisquer outros do país que compactuasse com essa “mentira”!
Mas aqui tratarei de dois períodos de grande importância para estrutura que conhecemos sobre o Japão: o período Sengoku e o Bakumatsu.
Antes de começarmos, uma coisa que muitos pensam é que podemos classificar o período de 1000 até 1500 d.C. como Japão Feudal. Isso é errado. Não havia formações de feudos. O certo seria examinar corretamente como eram as províncias e os xoguns, comandantes militares da época. A formação desse território é bem diferente do europeu, em que as cidades se formavam ao redor dos castelos dos senhores feudais.
O período Sengoku se deve pelo fato que o Império (período Nara que vai 710 até 794) foi enfraquecido com o surgimento dos xoguns. O imperador tinha força em cima de homens como proprietários rurais, não em lideres de combate. Isso começou as eras de xogunatos.
Eis que durante o xogunato de Ashikaga Yoshimasa, uma relativa estabilidade surgiu no território.
Ele se dedicou as questões artísticas e culturais, ignorando a situação política do país. Isso deu margem a daimyos (senhores de terras menores) inescrupulosos começarem a criar conflitos, desestruturando o país.  Houve muitas revoltas camponesas, dada a pobreza e opressão na qual a maioria da sociedade vivia. Isso criou nos senhores de terras um sentimento de revolta, sendo que nesse tempo havia 260 deles por todo país, com poder quase ilimitado nos seus territórios. Ou seja, 260 estados, alguns até com sua própria moeda e exército.
Quando, em 1467, houve uma grande disputa pela sucessão do xogum pelos clãs Hosokawa e os Yamana, isso teria sido o estopim para a Guerra de Onin. Mas isso foi só um pequeno detalhe cheio de guerras civis por dez anos, que mais tarde seriam pesados envolvendo daimyos por todo o Japão. Esse seria o ano do Período Sengoku (Era dos Estados em Guerra).
Vários homens tentaram unificar o país. Mas três nomes se destacam: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu.
Nobunaga foi o primeiro general japonês a aprender a usar eficientemente armas de fogo, introduzidas pelos portugueses em 1543. Havia, além da xenofobia japonesa, os problemas relativos ao uso de arcabuzes em campo de batalha. De modo prático, demorava demais os disparos e o recarregar deles. Ele então introduziu grupos de quatro homens, em cada um estaria responsável por uma parte do processo de ataque. Porém, adotou o cristianismo e arrasou vários pontos onde o budismo era prática comum. Ele já havia dominado boa parte da região central do Japão, porém foi traído por um de seus principais oficiais e emboscado. Ninguém sabe se foi morto ou cometeu suicídio.
Um dos auxiliares mais próximos de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi, foi rápido e matou o traidor Akechi Mitsuhide. Após isso, como sinal de respeito, ele depositou a cabeça do desafeto no tumulo de seu antigo líder. Prosseguiu com o plano de unificação do país. Para isso, demarcou várias barreiras para a mobilidade social. Os soldados seriam os únicos que portariam armas, passariam a viver próximos dos castelos, não poderiam cultivar a terra e recebiam um “salário” em arroz. Aqui vale lembrar que suas estruturas de cidades, não funcionavam como os feudos, visto que esses possuíam muralhas e recebiam todas as pessoas que serviam ao lorde. No caso em questão, só os samurais estavam sob proteção do xogum. Isso ocorria, pois, como era um camponês inicialmente Hideyoshi queria impedir que alguém como ele subisse de hierarquia e tomasse seu poder. Ainda assim ele conseguiu controlar quase todo o Japão.
Era ambicioso. Queria dominar toda Ásia e até atacou a China com um contingente de 200 mil soldados. O xogum caiu doente, mas convocou um conselho de cinco regentes. Um deles era Tokugawa Ieyasu, até o que filho de Toyotomi Hideyoshi, Hideyori, atingisse a idade adulta. Os homens escolhidos não se entenderam e começaram a lutar pelo poder. Isso criaria o confronto mais conhecido desse período chamado de Batalha de Sekigahara (em 1600), onde 160 mil samurais participaram. Tokugawa se saiu vitorioso. Em 1603, ele foi nomeado xogum.
Esse período foi um dos principais motivos da unificação dessa nação. No próximo texto, escrevo sobre o Bakumatsu.

Bakumatsu
Bakumatsu. Literalmente, pode se falar que é o “Final do Xogunato”. Compreende o período entre 1854 a 1868. Mesmo sendo uma quantidade de tempo menor que o período Sengoku, sua importância histórica traz muitas conseqüências para o Japão. Mas vamos começar falando sobre os motivos para tal acontecimento histórico.
Em Junho de 1853, chegaram os navios negros do Comodoro Matthew C. Perry. Um esquadrão com quatro embarcações, na tentativa de impulsionar um comércio com o Japão. Devido ao costume japonês de não fazer acordos mercantis (com exceção da Holanda) não quiseram receber a tripulação ou seu líder. Nesse caso, houve a ameaça de bombardear o porto de Nagasaki, único porto ao qual estava aberto a estrangeiros.  Sem escolha, o país permitiu contato com os americanos.
Havia um grande sentimento de divergência entre os japoneses: aqueles que iam contra o isolamento da nação e os contra. Isso sem contar que o bakufu (outro nome para xogunato, governo japonês da época) foi forçado a abrir mais portos para os Estados Unidos. Isso demonstrava a queda do poder do xogum. A população estava cheia de dúvidas sobre aquele governo. E vários outros fatos mostravam a ocidentalização no país, como a tradução de livros dos americanos. Isso deixou extremamente descontente algumas facções aliadas dos Tokugawas.
Dois fatores tornaram maior o sentimento de descontentamento com aquela situação. O primeiro se refere aos daimyos que perderam na Batalha de Sekigahara, que desde então, foram excluídos de qualquer cargo com relevante importância dentro do governo. Outro seria a filosofia de “Reverência ao Imperador, Expulsão dos Bárbaros”, pensamento neo-confucionista que reforçava os aliados do Imperador (chamados de isshin shishi, monarquistas). Estes últimos queriam a maior abertura do país para os contatos com estrangeiros.
Além de um maior contato com outros povos, estudantes navais foram enviados para estudar em escolas ocidentais. Isso gerou um costume, de enviar seus filhos para outros países. Além disso, no final do Bakumatsu, foi formada uma tropa com extrema fidelidade ao xogum. Chamados como Lobos de Mibu, seu nome era Shinsegumi. Sua função era basicamente controlar o caos durante esse período, como uma polícia militar da época. Mas ainda não eram bem tratados devido ao passado de alguns lideres do grupo.
Os ânimos entre aqueles a favor do xogum, ou seja, contra o contato estrangeiro e os monarquistas, querendo restaurar poder ao imperador.  Isso gerou diversos conflitos. Entre alguns que podemos registrar aquicom relevante importância estão:
-Bombardeio de Kagoshima ou Guerra Anglo-Satsuma (15 a 17 de Agosto de 1863): a Marinha Real Britânica teria bombardeado Kagoshima, em retaliação ao ataque de cidadãos britânicos. Acontece que um oficial japonês teria atacado estes homens devido ao não respeito à figura do daimyo. Algo incomum para pessoas, que não conheciam o costume daquele país.
-Incidente da Hospedaria Ikeda (5 de Junho do ano 1 da Era Genji, 1864): O Shinsegumi descobriu um plano dos monarquistas que visava usar uma noite de vento e incendiar Kyoto, já que e com esse clima as chamas se propagariam. Com isso, atacariam os homens importantes do xogum e sequestrariam o mesmo. Os isshin shiishi estariam preparando seus planos nas hospedarias Ikeda e Shikoku. Sabendo disso, precisando agir imediatamente e além de usar o fator surpresa, atacaram os conspiradores somente com os Lobos de Mibu, visto que o apoio não havia chegado. Como havia dois lugares, o grupo se dividiu em duas frentes. Ao sair da área do massacre, quando o dia amanheceu, estes homens foram lançados ao estrelato. Se antes eram tratados com medo devido as suas atitudes desmedidas, agora, além disso, eram admirados. Eram perigosos e extremamente hábeis. Até o bakufu se mostrou admirado com suas façanhas. Alguns relatos falam que o acontecimento causou um grande atraso na Restauração Meiji, devido à morte de importantes nomes naquela fatídica noite.
-Batalha de Toba e Fushimi (1868): Esse conflito ocorreu devido às tropas de Choushuu, Satsuma e Tosa se encontraram com tropas de Tokugawa, perto de Fushimi. Esta região é um bairro de Kyoto. Essa batalha ocorreu por quatro dias e se tornou uma dura derrota do xogunato.
-Guerra Boshin (1868 a 1869): Foi uma guerra civil no Japão que marcou o fim do xogunato Tokugawa. Os homens que eram fieis ao imperador se tratavam de uma força menor, mas relativamente modernizada. Isso era um fator bem importante, uma vez que o bakufu não recebia apoio dos estrangeiros. Visto que americanos poderiam lhe fornecer, por exemplo, armas de fogo. Na Batalha de Hakodate, o último resquício das forças, foi finalmente destruído. Com isso, Tokugawa perdeu qualquer poder sobre a nação.
Com a vitória dos monarquistas, o imperador subiu ao poder em 1867, com apenas quatorze anos. Em 1868 começava uma nova era; essa era foi declarada como Meiji. Muitos dos antigos senhores que foram contra o xogum, foram premiados através de posições governamentais, no novo regime. Aqueles que eram a favor de Tokugawa foram poupados, devido aos pedidos de SaigoTakamori. Este foi um dos grandes nomes do novo período.
Por fim, temos como conseqüência várias mudanças no modo de agir do Japão. Muitas pessoas começaram a seguir os padrões ocidentais de agir e vestir. Entre eles podemos citar a educação, economia, governo e até culinária. Além de proibir o uso de espadas, sendo que isso só era algo comum para os samurais. Só quem poderia fazer isso eram policiais devidamente treinados e licenciados. Ainda assim, o Japão continuou seguindo com sua cultura. Mantendo uma grande fidelidade aos seus antigos costumes e ainda assim, se modernizando.

P.S.: Muito obrigado para Deborah Bedento que meu deu alguns toques sobre o texto.

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