Era Sengoku
O
Japão. Terra do Sol Nascente. Sua bandeira é simplesmente um sol vermelho. E
poucos conheceram sobre sua cultura, sua história, seu mundo.
Como
professor de história no
Ocidente, pouco se sabe do passado dessa sociedade. Os livros de
história falam pouco ou nada sobre esse país. Só é citado quando se relaciona
em conflitos de grande importância para os ocidentais, como a Segunda Guerra Mundial. Poucos, por exemplo, sabem que houve uma
verdadeira carnificina no Brasil, depois dos Aliados vencerem essa guerra. Isso
se devia ao fato de que alguns japoneses não acreditavam na derrota de sua
nação. E matavam quaisquer outros do país que compactuasse com essa “mentira”!
Mas
aqui tratarei de dois períodos de grande importância para estrutura que
conhecemos sobre o Japão: o período Sengoku e o Bakumatsu.
Antes
de começarmos, uma coisa que muitos pensam é que podemos classificar o período
de 1000 até 1500 d.C. como Japão Feudal. Isso é errado. Não havia formações de
feudos. O certo seria examinar corretamente como eram as províncias e os
xoguns, comandantes militares da época. A formação desse território é bem
diferente do europeu, em que as cidades se formavam ao redor dos castelos dos
senhores feudais.
O
período Sengoku se deve pelo fato que o Império (período Nara que vai 710 até
794) foi enfraquecido com o surgimento dos xoguns. O imperador tinha força em
cima de homens como proprietários rurais, não em lideres de combate. Isso
começou as eras de xogunatos.
Eis
que durante o xogunato de Ashikaga Yoshimasa, uma relativa estabilidade surgiu
no território.
Ele se dedicou as questões artísticas e culturais, ignorando a
situação política do país. Isso deu margem a daimyos (senhores de terras
menores) inescrupulosos começarem a criar conflitos, desestruturando o
país. Houve muitas revoltas camponesas,
dada a pobreza e opressão na qual a maioria da sociedade vivia. Isso criou nos
senhores de terras um sentimento de revolta, sendo que nesse tempo havia 260
deles por todo país, com poder quase ilimitado nos seus territórios. Ou seja,
260 estados, alguns até com sua própria moeda e exército.
Quando,
em 1467, houve uma grande disputa pela sucessão do xogum pelos clãs Hosokawa e
os Yamana, isso teria sido o estopim para a Guerra de Onin. Mas isso foi só um
pequeno detalhe cheio de guerras civis por dez anos, que mais tarde seriam
pesados envolvendo daimyos por todo o Japão. Esse seria o ano do Período
Sengoku (Era dos Estados em Guerra).
Vários
homens tentaram unificar o país. Mas três nomes se destacam: Oda Nobunaga,
Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu.
Nobunaga
foi o primeiro general japonês a aprender a usar eficientemente armas de fogo,
introduzidas pelos portugueses em 1543. Havia, além da xenofobia japonesa, os
problemas relativos ao uso de arcabuzes em campo de batalha. De modo prático,
demorava demais os disparos e o recarregar deles. Ele então introduziu grupos
de quatro homens, em cada um estaria responsável por uma parte do processo de
ataque. Porém, adotou o cristianismo e arrasou vários pontos onde o budismo era
prática comum. Ele já havia dominado boa parte da região central do Japão, porém
foi traído por um de seus principais oficiais e emboscado. Ninguém sabe se foi
morto ou cometeu suicídio.
Um
dos auxiliares mais próximos de Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi, foi rápido e
matou o traidor Akechi Mitsuhide. Após isso, como sinal de respeito, ele
depositou a cabeça do desafeto no tumulo de seu antigo líder. Prosseguiu com o
plano de unificação do país. Para isso, demarcou várias barreiras para a
mobilidade social. Os soldados seriam os únicos que portariam armas, passariam
a viver próximos dos castelos,
não poderiam cultivar a terra e recebiam um “salário” em arroz. Aqui vale lembrar que suas estruturas
de cidades, não funcionavam como os feudos, visto que esses possuíam muralhas e
recebiam todas as pessoas que serviam ao lorde. No caso em questão, só os
samurais estavam sob proteção do xogum. Isso ocorria, pois, como era um
camponês inicialmente Hideyoshi queria impedir que alguém como ele subisse de
hierarquia e tomasse seu poder. Ainda assim ele conseguiu controlar quase todo
o Japão.
Era
ambicioso. Queria dominar toda Ásia e até atacou a China com um contingente de
200 mil soldados. O xogum caiu doente, mas convocou um conselho de cinco
regentes. Um deles era Tokugawa Ieyasu, até o que filho de Toyotomi Hideyoshi,
Hideyori, atingisse a idade adulta. Os homens escolhidos não se entenderam e
começaram a lutar pelo poder. Isso criaria o confronto mais conhecido desse
período chamado de Batalha de Sekigahara (em 1600), onde 160 mil samurais
participaram. Tokugawa se saiu vitorioso. Em 1603, ele foi nomeado xogum.
Esse
período foi um dos principais motivos da unificação dessa nação. No próximo
texto, escrevo sobre o Bakumatsu.
Bakumatsu
Bakumatsu.
Literalmente, pode se falar que é o “Final do Xogunato”. Compreende o período
entre 1854 a 1868. Mesmo sendo uma quantidade de tempo menor que o período
Sengoku, sua importância histórica traz muitas conseqüências para o Japão. Mas
vamos começar falando sobre os motivos para tal acontecimento histórico.
Em
Junho de 1853, chegaram os navios negros do Comodoro Matthew C. Perry. Um
esquadrão com quatro embarcações, na tentativa de impulsionar um comércio com o
Japão. Devido ao costume japonês de não fazer acordos mercantis (com exceção da
Holanda) não quiseram receber a tripulação ou seu líder. Nesse caso, houve a
ameaça de bombardear o porto de Nagasaki, único porto ao qual estava aberto a
estrangeiros. Sem escolha, o país
permitiu contato com os americanos.
Havia
um grande sentimento de divergência entre os japoneses: aqueles que iam contra
o isolamento da nação e os contra. Isso sem contar que o bakufu (outro nome
para xogunato, governo japonês da época) foi forçado a abrir mais portos para
os Estados Unidos. Isso demonstrava a queda do poder do xogum. A população
estava cheia de dúvidas sobre aquele governo. E vários outros fatos mostravam a
ocidentalização no país, como a tradução de livros dos americanos. Isso deixou
extremamente descontente algumas facções aliadas dos Tokugawas.
Dois
fatores tornaram maior o sentimento de descontentamento com aquela situação. O
primeiro se refere aos daimyos que perderam na Batalha de Sekigahara, que desde
então, foram excluídos de qualquer cargo com relevante importância dentro do
governo. Outro seria a filosofia de “Reverência ao Imperador, Expulsão dos Bárbaros”, pensamento
neo-confucionista que reforçava os aliados do Imperador (chamados de isshin shishi,
monarquistas). Estes últimos queriam a maior abertura do país para os contatos
com estrangeiros.
Além de um maior contato com
outros povos, estudantes navais foram enviados para estudar em escolas
ocidentais. Isso gerou um costume, de enviar seus filhos para outros países.
Além disso, no final do Bakumatsu, foi formada uma tropa com extrema fidelidade
ao xogum. Chamados como Lobos de Mibu, seu nome era Shinsegumi. Sua função era
basicamente controlar o caos durante esse período, como uma polícia militar da
época. Mas ainda não eram bem tratados devido ao passado de alguns lideres do
grupo.
Os
ânimos entre aqueles a favor do xogum, ou seja, contra o contato estrangeiro e
os monarquistas, querendo restaurar poder ao imperador. Isso gerou diversos conflitos. Entre alguns
que podemos registrar aquicom relevante importância estão:
-Bombardeio
de Kagoshima ou Guerra Anglo-Satsuma (15 a 17 de Agosto de 1863): a Marinha
Real Britânica teria bombardeado Kagoshima, em retaliação ao ataque de cidadãos
britânicos. Acontece que um oficial japonês teria atacado estes homens devido
ao não respeito à figura do daimyo. Algo incomum para pessoas, que não
conheciam o costume daquele país.
-Incidente
da Hospedaria Ikeda (5 de Junho do ano 1 da Era Genji, 1864): O Shinsegumi
descobriu um plano dos monarquistas que visava usar uma noite de vento e
incendiar Kyoto, já que e com esse clima as chamas se propagariam. Com isso,
atacariam os homens importantes do xogum e sequestrariam o mesmo. Os isshin shiishi
estariam preparando seus planos nas hospedarias Ikeda e Shikoku. Sabendo disso,
precisando agir imediatamente e além de usar o fator surpresa, atacaram os
conspiradores somente com os Lobos de Mibu, visto que o apoio não havia
chegado. Como havia dois lugares, o grupo se dividiu em duas frentes. Ao sair
da área do massacre, quando o dia amanheceu, estes homens foram lançados ao
estrelato. Se antes eram tratados com medo devido as suas atitudes desmedidas,
agora, além disso, eram admirados. Eram perigosos e extremamente hábeis. Até o
bakufu se mostrou admirado com suas façanhas. Alguns relatos falam que o
acontecimento causou um grande atraso na Restauração Meiji, devido à morte de
importantes nomes naquela fatídica noite.
-Batalha
de Toba e Fushimi (1868): Esse conflito ocorreu devido às tropas de Choushuu,
Satsuma e Tosa se encontraram com tropas de Tokugawa, perto de Fushimi. Esta
região é um bairro de Kyoto. Essa batalha ocorreu por quatro dias e se tornou
uma dura derrota do xogunato.
-Guerra
Boshin (1868 a 1869): Foi uma guerra civil no Japão que marcou o fim do
xogunato Tokugawa. Os homens que eram fieis ao imperador se tratavam de uma
força menor, mas relativamente modernizada. Isso era um fator bem importante, uma
vez que o bakufu não recebia apoio dos estrangeiros. Visto que americanos
poderiam lhe fornecer, por exemplo, armas de fogo. Na Batalha de Hakodate, o
último resquício das forças, foi finalmente destruído. Com isso, Tokugawa
perdeu qualquer poder sobre a nação.
Com
a vitória dos monarquistas, o imperador subiu ao poder em 1867, com apenas
quatorze anos. Em 1868 começava uma nova era; essa era foi declarada como
Meiji. Muitos dos antigos senhores que foram contra o
xogum, foram premiados através de posições governamentais, no novo regime. Aqueles
que eram a favor de Tokugawa foram poupados, devido aos pedidos de
SaigoTakamori. Este foi um dos grandes nomes do novo período.
Por
fim, temos como conseqüência várias mudanças no modo de agir do Japão. Muitas
pessoas começaram a seguir os padrões ocidentais de agir e vestir. Entre eles
podemos citar a educação, economia, governo e até culinária. Além de proibir o
uso de espadas, sendo que isso só era algo comum para os samurais. Só quem
poderia fazer isso eram policiais devidamente treinados e licenciados. Ainda
assim, o Japão continuou seguindo com sua cultura. Mantendo uma grande
fidelidade aos seus antigos costumes e ainda assim, se modernizando.
P.S.:
Muito obrigado para Deborah Bedento que meu deu alguns toques sobre o texto.
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