Os personagens das histórias em quadrinhos brasileiros tiveram seu processo criativo diferente dos Estados Unidos. Enquanto lá se tornou um berço para heróis, aqui seguiu um caminho de uma forma mais particular.
A
primeira criação brasileira não foi exatamente tupiniquim. Angelo, um italiano
erradicado no Brasil teria criado um personagem no jornal Vida Fluminense, o
primeiro do Brasil. Se tratava de Nhô-Quim, que deve inicialmente, duas
histórias. As Aventuras de Nhô-Quim,
título dado à sequência, contava a saga de um jovem caipira de 20 anos que
visita a corte do Rio de Janeiro.
Em
1905 sairia a revista infantil Tico-Tico. Foi a primeira a publicar histórias
em quadrinhos no Brasil. Entre alguns de seus leitores mais famosos foram Ruy
Barbos e Carlos Drummond de Andrade. O próprio ícone da Disney, Mickey Mouse
fez sua estreia em quadrinhos no país em 1930 nas páginas de O Tico Tico e era
chamado de Ratinho Curioso. O personagem mais popular da revista, Chiquinho,
era uma cópia não-autorizada de Buster Brown, criado por Richard Felton
Outcault.
Já
em 1922, depois da Semana da Arte Moderna foi descoberto um talento de Pagu.
Esse era o apelido de Patrícia Galvão, importante artista do período. Sendo considerada
musa dos modernistas ela aderiu ao movimento
antropofágico com cunho modernista. Após se casar com Oswald de Andrade,
ela desenhou para o jornal que fez com seu marido, O Homem do Povo. A história em Quadrinho chamada Malakabeça, Fanika e Kbelluda, descreve
situações de Kbelluda, a sobrinha pobre de Malakabeça e Fanika, um casal que
não teve filhos.
O
jornal paulista A Gazeta, lança em
1929 uma revista com várias histórias, a Gazetinha.
Ela ainda teria duas diferentes fases: uma em 1934 e outra em 1947. Um dos
maiores sucessos da revista foi A Garra
Cinzenta. Foi uma criação de Francisco Armond e Renato Silva, em 1937. Na
verdade, Francisco era um pseudônimo Helena Ferraz, uma mulher.
As
histórias em quadrinhos começam a ser mais valorizadas no Brasil (em especial
as do exterior, como The Spirit, de
Will Eisner) e gibi seria um sinônimo
para revistas desse tipo.
Era
uma época boa para o rádio. Dois personagens de obras radiofônicas brasileiras
teriam suas histórias ilustradas: Gerônimo
e Vingador.
O
personagem icônico, Amigo-da-Onça,
seria a primeira página no jornal O Cruzeiro por muito tempo. Criado em 1943
pelas mãos de Perícles, foi um dos personagens mais populares do país. Ele
também apareceu muitas vezes na revista de Assis Chateubriand, O Gury.
Muitas
obras surgiram com as caras de grandes artistas do cinema nacional da época,
como Oscarito e Grande Otelo. Uma estratégia bem usada na época para alavancar
a venda de revistas.
Miguel
Penteado lança as revistas pela sua editora Continental
(depois editora Outubro e, por
fim editora Taíka), sempre com
desenhistas nacionais. Onde ele se incluía. Na década de 1950 ilustrou diversas
capas de gibis de terror para a editora La Selva. Ele também foi um dos
organizadores da 1ª Exposição
Internacional de Histórias em Quadrinhos, inaugurada em 1951.
Contudo,
a mesma “caça às bruxas” que começou nos Estados Unidos, se estendeu ao Brasil.
O macarthismo tinha chegado de menor forma, mas muitos quadrinhos começaram a
ser taxados como subversivos e com teor comunista. Ainda assim, um artista
mantinha seu trabalho mesmo nesse período. Rodolfo Zalla se mantinha desenhando
obras com temáticas de terror, trabalhando a noite. Assim, ele conseguia se
sentir mais envolvido pelo tema em que trabalhava.
Ainda
assim muitas obras surgiram nesse meio tempo. Alguns acordos foram feitos com a
Disney, para que uma revista do Pato Donald saísse pelas mãos de artistas
brasileiros. O que fazia com que as crianças obtivessem leitura com ar
nacional.
Só
que não apenas de terror e temática infantil viveram os quadrinhos brasileiros.
Os Catecismos de Carlos Zéfiro foram
histórias em quadrinhos pornográficas. O sentido não tinha nada a ver com
preceitos religiosos ou católicos, e sim com iniciação. No caso, com o começo da
educação sexual. O nome mais famoso do gênero sempre foi o de Carlos Zéfiro.
Pseudônimo de um funcionário público carioca, Zéfiro escreveu e desenhou cerca
de 500 revistinhas entre os anos 1950 e 1970. Ficou tão popular que ofuscou
dezenas de outros artistas do sexo ilustrado.
No
final dos anos 50, dois artistas se destacam: Ziraldo e Maurício de Sousa.
O
primeiro deve suas obras publicadas pelas revistas A Cigarra, Cruzeiro, Visão e o Jornal do Brasil. Se tornando um dos ilustradores mais respeitados
até hoje. Nos anos 60 começou a trabalhar com charges de conteúdo político. E
se tornou o primeiro autor de histórias em quadrinhos reconhecido por apenas um
autor, A Turma do Pererê. Mas com o
golpe militar, o autor deve que publicar suas histórias em uma revista com
outros autores da época, O Pasquim.
Uma obra jornalística não conformista com desmantes daquele período, até hoje reconhecido
pelo seu humor sarcástico, mas verdadeiro. O artista não se conformava só com o
título de cartunista: pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo e letrista.
Proporcionando a ele reconhecimento internacional.
Com
a redemocratização do Brasil, O Pasquim perdeu sua essência como jornal de
resistência. Fazendo Ziraldo trabalhar em novas produções, como O Menino Maluquinho. Se tornou a sua
maior consagração na criação para o público infantil. Sem contar que ganhou o
Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro em São Paulo. A inspiração do
personagem foi uma reunião com pais e professores, no qual ele disse que
crianças deveriam ser amadas e respeitadas. Houve então a sugestão que ele
criasse uma história baseada nesse conceito.
Filho
de Antônio Mauricio de Sousa e de Petronilha Araújo de Sousa, muitos não sabem,
mas ele é nascido em Santa Isabel. Ele começou fazendo desenhos, para cartazes
e ilustrações para rádios e jornais de Mogi das Cruzes, onde viveu muito tempo.
Foi para São Paulo onde só encontrou emprego no jornal Folha da Manhã, fazendo
reportagens.
A
primeira história que foi publicada pelo jornal, foi uma tira do Bidu, o
cachorro azul de Franjinha. E isso deu origem a novos personagens, entre eles
Cebolinha e Mônica, essa última inspirada na sua filha de mesmo nome. Contudo,
suas obras começaram a ser apreciadas pelas crianças. Sem perceber, ele foi
elevado ao título de escritor para o público infantil.
Isso
se devia ao fato de que seus personagens eram crianças, com dilemas típicos
daquela idade. Lógico com muito bom humor e um traço característico. Mônica,
Cebolinha e companhia passaram a estrelar sua própria revista em 1970, em
especial na famosa Turma da Mônica.