quarta-feira, 6 de abril de 2016

Shinsegumi, os Lobos de Mibu


Após a chegada do Comodoro Perry, o Japão foi lançado ao caos e ao medo. Muitos samurais, especialmente aqueles de classes inferiores, começaram a duvidar da capacidade do Xogunato de defender o país contra as potências estrangeiras, principalmente quando viram os navios negros armados. O slogan "Sonno-Joi" (reverenciar o Imperador e expulsar os bárbaros) estava ganhando mais e mais apoio, quando esses samurais abandonaram seus feudos para irem a Kyoto juntar-se aos movimentos revolucionários - lembrando que na época abandonar o seu feudo de origem era considerado um dos piores crimes possíveis; Se alguém o fizesse, não poderia mais voltar, sob pena de morte.
Tais roshis (o mesmo que ronins, isto é, samurais que não servem a um daimio - senhor feudal) aumentaram em Kyoto, causando mais e mais perturbações na capital. Naqueles primeiros dias de insatisfação, muitos roshis não tinham idéia de que movimento ou que líder seguir. O que todos sabiam é que estavam impacientes e ávidos de fazer alguma coisa para defender o Japão. Havia miríades de escolas de pensamento - Sonno-joi, abertura do país para os estrangeiros para aprender com eles e usar tal conhecimento e tecnologia contra os mesmos, apoiar o Xogunato. Cada um tinha suas próprias idéias e não se podia saber quem estava certo ou errado. O Xogunato decidiu que seria de grande vantagem empregar tais roshis sem hesitação a seu serviço, em vez de deixá-los vagando pela capital. Assim, os Roshitais (tropas de roshis) foram formados e roshis alistados sob o comando de samurais do Xogunato, onde os "requisitos de inscrição" eram as habilidades com a espada do indivíduo (de lutas de kenjutsu até guisa de exame eram executadas). E agora, uma mudança de cenário...
No distrito de Tama, próximo a Edo, havia um dojo de kenjutsu, o Shieikan, que praticava o estilo Tennen Rishin Ryuu. O mestre era um tal de Isami Kondou, e entre os alunos estavam Toshizou Hijikata, Souji Okita e Genzaburou Inoue. Estes quatro eram como irmãos, sendo Okita o mais jovem e o mais poderoso. Havia também muitos freqüentadores no dojo que faziam suas refeições lá, entre eles Keisuke Yamanami, Sanosuke Harada e Shinpachi Nagakura. Quando Kondou e Hijikata ouviram falar da formação de Roshitais em Kyoto, como bons patriotas que eram, foram a Kyoto com vários discípulos do Tennen Rishin Ryuu, inclusive os anteriormente citados, deixando o dojo aos cuidados do irmão mais velho de Hijikata.
Lá chegando, foram alistados por Hachirou Kiyokawa, após passar pelos "exames de admissão". Treze roushis, incluindo Kondou e cia, foram indicados como "Defensores de Kyoto" por Katamori Matsudaira, o Daimio do Feudo de Aizu.
Porém, apesar de Kiyokawa atuar publicamente como pró-Xogunato, ele na verdade estava do outro lado. O que ele queria era reunir uma tropa de roushis em nome do Xogunato, mas treiná-los para serem Ishin Shishis (monarquistas). Irônico, não? Ele planejava atacar o alojamento gaijin (estrangeiro) de Yokohama, incendiar as casas e matar os estrangeiros, para que a diplomacia do Xogunato, bem como sua imagem, caísse o mais baixo possível. O Xogunato soube disto, porém, e enviou assassinos para eliminar Kiyokawa, no dia 13 de abril do 3º ano da era Bunkyuu (1863), antes que o seu plano pudesse ser executado. Depois disto, Kondou e cia insistiram em auxiliar o Xogunato, e assim formaram o Shinsengumi, com 13 membros. Foi aí que o kanji "Makoto" foi escolhido como estandarte do grupo. Houveram algumas discussões sobre isso: Kondou insistiu no "Makoto" e Serizawa no "Ryu" (Dragão). Esta foi a primeira formação do Shinsengumi:

- Kyoukuchou:
(Comandantes)
  • - Kamo Serizawa
  • - Nishiki Niimi
  • - Isami Kondou

- Fukuchou
(Vice-Comandantes)
  • - Keisuke Yamanami
  • - Toshizou Hijikata

- Fukuchou Jokin
(Auxiliares dos Vice-Comandantes)
  • - Souji Okita
  • - Shinpachi Nagakura
  • - Sanosuke Harada
  • - Heisuke Todou
  • - Genzaburou Inoue
  • - Gorou Hirayama
  • - Kenji Noguchi
  • - Juusuke Hirama
  • - Hajime Saitou
  • - Shuntarou Ogata
  • - Susumu Yamazaki
  • - Sanjuurou Tani
  • - Chuuji (Tadaji) Matsudaira
  • - Soutarou Andou

- Chouyaku Narabi Kansatu Gata
(Investigações e Observações-Espiões)
  • - Kai Shimada
  • - Shouji (Katsuji) Kawashima
  • - Nobutarou Hayashi

- Kanteiyaku Narabi Konida Gata
(Operações de Limpeza e Pequenas Bagagens)
  • - Yutarou Kishima (Kishida)
  • - Yabee Okan (Oseki)
  • - Kitarou Kawai
  • - Hyouko Sakai


- A Primeira Turbulência Interna
Como se pode ver, o Shinsengumi agora é composto principalmente pelos homens de Kondou. Desnecessário dizer que eles eram a alma do Shinsengumi do começo ao fim - afinal eles eram os mais fortes. De qualquer maneira, Kamo Serizawa não era flor que se cheirasse. Mestre do estilo Shintou Munem Ryuu, ele era famoso por usar um leque de ferro como arma e freqüentava bordéis, matava pessoas ao seu bel-prazer, se embriagava, e comportava-se de maneira impertinente, usando sua posição como "Comandante do Shinsengumi" para acobertar os seus erros. Daí surgiu o apelido "Lobos de Mibu": a tropa se reuniu primeiro na vila de Mibu, e então o nome Miburo (Roushis de Mibu), se tornou Miburo (Lobos de Mibu). A tropa tornou-se desprezada em toda Kyoto. A gota d'água para Kondou e Hijikata foi quando Serizawa trouxe uma prostituta para o alojamento do Shinsengumi. Eles eram homens de altos princípios morais e apegados aos códigos de honra dos samurais.
Por outro lado, Niimi não era muito melhor. Quando a tropa estava viajando para Kyoto, um incêndio aconteceu no hotel em que estavam hospedados e Kondou levou toda a culpa pela negligência. Mais tarde ele foi ridicularizado por Serizawa e Niimi. Algumas semanas mais tarde, porém, Hijikata e os outros descobriram a verdade: Niimi estava exigindo descontos (e outros serviços luxuosos) de um certo lojista, que se recusou a atendê-los porque sua exigências eram ridículas. Enfurecidos, os dois dispararam um canhão, que viajou com a tropa e estava sendo armazenado no loja no hotel. Porém, eles se descuidaram e o incêndio atingiu o hotel. Hijikata conseguiu descobrir evidências suficientes para incriminar apenas Niimi, porém, e Hijikata ordenou que Niimi cometesse seppuku. Depois disto, as hostilidades entre Kondou e Serizawa se tornaram mais e mais insanas. Finalmente, em 18/09/1863, Serizawa e outros membros corruptos do Shinsengumi foram assassinados por um grupo de extermínio especial, composto por Inoue, Yamanami, Todou, Harada e Okita.
Bem, membros vieram e se foram, usualmente por decapitações e seppuku. Depois do caso Serizawa, Kondou e Hijikata se determinaram a melhorar a qualidade dos seus membros, não somente aumentando a dificuldade dos "testes de admissão", como também decapitando, assassinando e ordenando seppuku a qualquer membro que fosse apanhado violando o Bushido (1ª lei do Shinsengumi, não esqueçam!).
Nota: Seppuku - O Suicídio Ritual, no qual o Samurai corta a própria Barriga, era considerada uma forma Honrosa de se morrer.
Segundo os romances históricos, os testes para os candidatos ao Shinsengumi eram feitos da seguinte forma:
1) Os candidatos lutariam entre si usando shinais (espadas de bambu);
2) Os mais fortes entre eles lutariam com membros mais treinados do Shinsengumi, usualmente Saitou, Nagakura ou Todou. O juiz dessa luta freqüentemente era Okita.
3) A seleção final era feita por Hijikata e Yamanami.

- O Trabalho deles
Basicamente, o Shinsengumi era uma força policial dedicada a patrulhar as ruas de Kyoto e manter a paz. Eles juraram proteger Kyoto com suas espadas. No calor dos movimentos monarquistas, os Ishins empestavam Kyoto, planejando a derrubada do Xogunato. Adicione-se a isso as ações radicais dos Ishins (tais como incendiar casas de gaijins) e todos os roshis, excluindo-se o Shinsengumi, tornaram-se suspeitos e perigosos em Kyoto, especialmente aqueles que desertaram do seu feudo de origem. Então, se uma pessoa não apresentasse uma identidade satisfatória (nome e feudo de origem) quando interrogado pelo Shinsengumi, seria retalhada sem dó. Isto fez com que o Shinsengumi (especialmente seu Vice-Comandante, Hijikata, um homem rígido e impiedoso, tanto para punir como para retalhar indivíduos suspeitos) fosse temido em toda Kyoto.
O estilo favorito de combate do Shinsengumi era o muitos-contra-um (ou contra uns poucos), e isto se tornou mais evidente a medida que o Shinsengumi crescia. Se a primeira leva de Miburos cercando suspeitos fosse derrotada, levas adicionais eram enviadas a eles, até deixá-los completamente exaustos e retalhá-los.

- O Incidente da Hospedaria Ikeda
(Dia 5 do junho do ano 1 da era Genji [1864])
E, finalmente, o ponto de virada da carreira do Shinsengumi. O Shinsengumi havia prendido um dos mais importantes homens do Ishin Shishi, Kiemon. Este foi torturado cruelmente e sem piedade. Mas o Shinsengumi só havia conseguido seu nome verdadeiro, Shuntarou Furutaka. Porém, Toshizou Hijikata, Vice-Comandante do Shinsengumi, perdeu a paciência e submeteu Furutaka a uma tortura mais cruel, até que ele confessasse tudo; o plano dos monarquistas era o seguinte:
1) Aproximadamente no dia 20 de Junho de 1864, os monarquistas iriam escolher uma noite com bastante vento para atear fogo em Kyoto. Dependendo do caso, eles iriam cercar o palácio de Kyoto com chamas.
2) Aproveitando o caos criado, emboscariam e matariam todos os homens importantes do Xogunato.
3) Então seqüestrariam o Imperador e o levariam ao feudo de Choushuu.
Os monarquistas estariam reunidos na Hospedaria Ikeda e na Hospedaria Shikoku. Sem imaginar que o Shinsengumi havia descoberto os seus planos, os monarquistas se reúnem na Hospedaria Ikeda. O Comissariado Militar de Kyoto é alertado sobre o perigo e trata de juntar-se ao exército do Comissariado e a outras organizações e feudos para atacar os monarquistas.
Entretanto, duas horas depois, sem que ninguém houvesse chegado, o Shinsengumi decide agir sozinho. O Comandante dos Lobos de Mibu, Isami Kondou, forma dois grupos para atacar a Hospedaria Ikeda e a Shikoku ao mesmo tempo. E assim começa uma batalha que dura duas horas, na qual os monarquistas foram massacrados. Esse acontecimento ficou conhecido como o Incidente da Hospedaria Ikeda (Ikeda-ya Jiken ou Ikeda-ya no Hen).
Depois do confronto, não sobrou quase nada da Hospedaria. E a volta triunfal do Shinsengumi foi acompanhada por um mar de pessoas, impressionadas ao ver os homens completamente cobertos de sangue. Este incidente lançou o nome da tropa ao "estrelato" e, por causa dessa atuação, o Imperador mostrou o seu apreço pelos Miburo.

- Uma Estrutura Mais Organizada
A medida em que o nome do grupo atraía admiração por todo o país, seu número aumentou tão rapidamente (chegou a 300 no seu auge!) que foi necessária uma melhor organização. De modo que os Miburo ficaram organizados da seguinte forma:
  • - Sochou (Comandante): Isami Kondou
  • - Fukushou (Vice-Comandante): Toshizou Hijikata
  • - Sanbou (Conselheiro Militar): Kashitarou Itou 

[NOTA: Keisuke Yamanami foi obrigado a cometer seppuku por violar a 2ª lei do Shinsengumi]

- Kumichou (Capitães):
  • - Ichibantai (1ª divisão): Souji Okita
  • - Nibantai (2ª divisão): Shinpachi Nagakura
  • - Sanbantai (3ª divisão): Hajime Saitou
  • - Yonbantai (4ª divisão): Chuuji(Tadaji) Matsubara
  • - Gobantai (5ª divisão): Kanryuusai Takeda
  • - Rokubantai (6ª divisão): Genzaburou Inoue
  • - Shichibantai (7ª divisão): Sanjuurou Tani
  • - Hachibantai (8ª divisão): Heisuke Todou
  • - Kyuubantai (9ª divisão): Mikisaburou Susuki
  • - Juubantai (10ª divisão): Harada Sanosuke


- Gochou (Cabos):
  • - Kai Shimada
  • - Shouji Kawashima
  • - Nobutarou Hayashi
  • - Eisuke Okusawa
  • - Gorou Maeno
  • - Juurou Abe
  • - Takehachirou Kayama
  • - Tetugorou Itou
  • - Yoshitaku Kondou
  • - Maschika Kumebe
  • - Kanou Washio
  • - Nobori Nakamishi
  • - Kouzou Ohara
  • - Yabee Tomiyama
  • - Kosaburou Nakamura
  • - Kotarou Ikeda
  • - Kaisuke Hashimoto
  • - Tsukasa Ibaragi
  • - (e mais duas pessoas)


- Roushi Torishimari Yaku Narabi kansatus Tobi
(Departamento de Disciplina Interna e Obeservações-Espiões)
  • - Tainoshin Shinohara
  • - Susumu Yamazaki
  • - Tadao Arai
  • - Nobori Ashiya
  • - Kan-Ichirou Yoshimura
  • - Shuntarou Ogata


- Kanjou Gakari
(Operações de Limpeza)
  • - Kisaburou Kawai 


- O Fim do Shinsengumi
Como dito anteriormente, Keisuke Yamanami, meses antes do Incidente da Hospedaria Ikeda saiu do Shinsengumi, mas foi capturado por Souji Okita e obrigado a cometer Seppuku.
Mais tarde, em 1865, Chuuji (Tadaji) Matsubara cometeu Seppuku por causa de uma decepção amorosa.
Kawai Kisaburou foi executado por não ter conseguido justificar um rombo financeiro nas contas do grupo que ele provocou sem querer.
Os irmãos Tani (Sanjuurou, Shuntarou e Kondou Shuuhei) eram uma grande fonte de problemas dentro do Shinsengumi. Acabaram sendo mortos por Hajime Saitou.
Tauchi Tomo foi executado porque foi ferido pelo amante de sua mulher.
Kanryuusai Takeda tentou fugir para o feudo de Satsuma, mas foi descoberto e morto por Hajime Saitou.
Kashitarou Itou, Mikisaburou Suzuki e Heisuke Todou e mais algumas pessoas tentaram sair do Shinsengumi usando como pretexto a morte de Keisuke Yamanami, mas foram mortos em 18 de Novembro de 1867. Alguns membros do grupo dissidente sobreviveram, e conduziram atentados contra as vidas de Okita e Kondou.
Mais tarde, ocorreu a aliança entre os feudos de Choushuu e Satsuma (os mais atuantes feudos monarquistas). A seguir, o Xogun Yoshinobu Tokugawa devolveu o poder político para o Imperador, que logo depois assumiu oficialmente o governo do Japão.
Em seguida, tivemos a Guerra Boshin, que marcou o fim da Era Tokugawa e o início da era Meiji. Na primeira batalha, a de Toba e Fushimi, vários membros do Shinsengumi morrem, entre eles Inoue e Susumu.
Kondou foi preso e decapitado em 25 de abril de 1868.
Okita morreu de tuberculose em 30 de maio do mesmo ano.
Nagakura e Harada foram expulsos do Shinsengumi após uma violenta discussão com Hijikata, e formaram o Seiheitai. Mais tarde, Harada juntou-se ao Shogitai.
Durante a segunda batalha da Guerra Boshin, a batalha do monte Ueno, em Edo, Harada foi dado como morto. Há lendas de que ele sobreviveu e foi para a Mongólia, tornando-se o líder dos nômades de lá.
Saitou lutou até o fim, mas a 3ª divisão do Shinsengumi foi massacrada, e ele dado como morto. Porém, Saitou sobreviveu, foi para o feudo de Aizu, casou-se com Tokio Takagi, teve três filhos, tornou-se policial espadachim e mudou seu nome para Gorou Fujita. (Em off: acho que é por isso que o Saitou sempre se dá bem em todas as histórias de anime...)
Nagakura voltou ao seu feudo de origem, mudou seu nome para Yoshie Toshimura, tornou-se instrutor de Kendô de uma penitenciária de Hokkaido e até escreveu uma biografia sobre os seus tempos no Shinsengumi.
Falando em Hokkaido, foi lá que a vida e as lutas de Toshizou Hijikata, o "demônio do Shinsengumi", chegaram ao fim. Ele e os demais sobreviventes dos Miburo estabeleceram uma república independente, a república de Hokkaido. Durante algum tempo eles massacraram todas as expedições do governo Meiji que foram enviadas para lá. Até que, durante a última batalha da guerra Boshin, a batalha de Hakodate, Toshizou Hijikata foi morto por tiros de metralhadora, a 11 de maio de 1869. A morte de Hijikata marca o final da história do Shinsengumi.

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